Vicariato Episcopal Norte




segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ressureição de Lázaro: o 7º sinal é na “casa dos pobres”

Sexta-feira, 8 de abril de 2011 - 19h03min
O artigo aqui apresentado encontra-se no livro Raio-X da Vida de Carlos Mesters, Francisco Orofino e Mercedes Lopes. Clique no link para saber mais sobre o livro. Você também pode adquiri-lo em promoção pelo e-mail vendas@cebi.org.br.

A pequena comunidade de Betânia, onde Jesus gostava de hospedar-se, reflete a situação e o estilo de vida das conunidades do Discípulo Amado. Betânia quer dizer “casa dos pobres”. Marta quer dizer “senhora” (coordenadora): uma mulher coordenava a comunidade. Lázaro significa “Deus ajuda”: a comunidade pobre esperava tudo de Deus. Maria significa “amada de Javé”: era a discípula amada, imagem da comunidade. O episódio de Lázaro comunica esta certeza: Jesus traz vida para a comunidade dos pobres. Jesus é fonte de vida para todos os que nele acreditam.
Comentando o texto
1 . João 11,1-16: Uma chave para entender o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro
Lázaro estava doente. As irmãs Marta e Maria mandam chamar Jesus “Aquele a quem amas está doente!” (Jo 11,3.5). Jesus atende ao pedido e explica: “Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho de Deus!” (Jo 11,4). No Evangelho de João, a glorificação de Jesus acontece através da sua morte (Jo 12,23; 17, 1). Uma das causas da sua condenação à morte vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Assim, o sétimo sinal vai ser para manifestar a glória de Deus (Jo 11,4). Os discípulos não entendem (Jo 11 ,6-8). Jesus fala da morte de Lázaro e eles entendem que esteja falando do sono (Jo 11 , 11,15). Ainda não perceberam a identidade de Jesus como vida e luz (Jo 11 ,9- 10). Porém, mesmo sem entenderem, eles estão dispostos a ir morrer com ele (Jo 11,16). A doutrina deles é deficiente, mas a fé é correta.

2. João 11,17-19: Jesus chega em Betânia
Lázaro está morto mesmo. Depois de quatro dias, a morte é absolutamente certa, o corpo entra em decomposição e já cheira mal (Jo 11 ,39). Muitos judeus estão na casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os representantes da Antiga Aliança não trazem vida nova. Só consolam. Jesus é que vai trazer vida nova! Os judeus são os adversários que querem matar Jesus (Jo 10,31). As duas mulheres criaram um espaço novo de contato entre Jesus e seus adversários. Assim, de um lado, a ameaça de morte contra Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! E neste contexto de conflito entre vida e morte que vai ser realizado o sétimo sinal.

3. João 11,20-24 Encontro de Marta com Jesus - promessa de vida e de ressurreição
No encontro com Jesus, Marta diz que crê na ressurreição. Ela está dentro da cultura e da religião do povo do seu tempo. Os fariseus e a maioria do povo já acreditavam na ressurreição (At 23,6-10; Mc 12,18). Acreditavam, mas não a revelavam. Era fé na ressurreição no final dos tempos e não na ressurreição presente na história, aqui e agora. Não renovava a vida. Faltava dar um salto. A vida nova da ressurreição só vai aparecer com Jesus.

4. João 11,25-27: A revelação de Jesus provoca a profissão de fé
Jesus desafia Marta a dar este salto. Não basta crer na ressurrição que vai acontecer no final dos tempos, mas tem que crer que a ressurreição já está presente hoje na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam em Jesus. Sobre eles a morte não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a “ressurreição e a vida”. Então, Marta, mesmo sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, confessa a sua fé: “Eu creio que tu és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo”.

5. João 11,28-31: O encontro de Maria com Jesus
Depois da profissão de fé, Marta vai chamar Maria, sua irmã. E o mesmo processo que já encontramos na chamada dos primeiros discípulos: encontrar; experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus! Maria vai ao encontro de Jesus, que continuava no mesmo lugar onde Marta o tinha encontrado. Tal como a sabedoria, que se manifesta nas ruas e nas encruzilhadas (Pr 1 ,20-2 1), assïm Jesus é encontrado no caminho fora do povoado. Hoje, tanta gente busca saídas para os problemas da sua vida nas ruas e nas encruzilhadas! João diz que osj udeus acompanhavam Maria. Pensavam que ela fosse ao sepulcro do irmão. Eles só entendiam de morte, e não de vida!

6. João 11,32-37: A resposta de Jesus
Maria repete a mesma frase de Marta: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11,21). Ela chora, todos choram. Jesus se comove. Quando os pobres choram, Jesus se emociona e chora. Diante do choro de Jesus, os outros concluem: “Vede como ele o amava!” Esta é a característica das comunidades do Discípulo Amado: o amor mútuo entre Jesus e os membros da comunidade Alguns ainda não acreditam e levantam dúvidas: “Esse que curou o cego, por que não impediu a morte de Lázaro?”

7. João 11,38-40: Retirem a pedra!
Pela terceira vez, Jesus se comove (Jo 11,33.35.38) E assim que João acentua a humanidade de Jesus contra aqueles que, no fim do século 1, espiritualizavam a fé e negavam a humanidade de Jesus. Jesus manda tirar a pedra. Marta reage: “Senhor, já cheira mal! E o quarto dia!” Novamente, Jesus a desafia apelando para a fé na ressurreição, aqui e agora, como um sinal da glória de Deus: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”
8. João 11,41-44: A ressurreição de Lázaro
Retiraram a pedra. Diante do sepulcro aberto e diante da incredulidade das pessoas, Jesus se dirige ao Pai. Na sua prece, primeiro, faz ação de graças: “Pai, dou-te graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me ouves!” O Pai de Jesus é o mesmo Deus que sempre escuta o grito do pobre (Ex 2,24: 3,7). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um sinal por causa da multidão que o rodeia. para que possa acreditar que ele, Jesus, é o enviado do Pai. Em seguida, grita em alta voz: “Lázaro, vem para fora!” E Lázaro vem para fora. É o triunfo da vida sobre a morte, da fé sobre a incredulidade! Um agricultor do interior de Minas comentou: “A nós cabe retirar a pedra! E aí Deus ressuscita a comunidade Tem gente que não quer tirar a pedra, e por isso a comunidade deles não tem vida!”

9. João 11,45-54: O resultado do sétimo sinal no meio do povo
O capítulo 11 descreveu o último sinal, o mais importante dos sete: a ressurreição de Lázaro (Jo 11 ,1-44). E o ponto alto da revelação que Jesus vinha fazendo. Terminada a revelação, vem a descrição do resultado: muita gente começa a crer em Jesus (Jo 11,45). Outros ficam em cima do muro e fazem a denúncia (Jo 11,46). Os líderes, preocupados com o crescimento da liderança de Jesus e. não querendo perder a sua própria posição, decidem matar Jesus (Jo 11,47-53). O resultado final é que Jesus tem que viver na clandestinidade (Jo 11,54). Da mesma maneira, na época em que foi escrito o evangelho, a comunidade que trazia a vida para os outros se via obrigada a viver na clandestinidade.

A confissão de Marta e o significado da ressurreição
Se lemos todo o capítulo 1 1 , vamos encontrar no centro dele a revelação de Jesus como ressurreição e vida, provocando como resposta a profissão de fé, proclamada publicamente por Marta (Jo 11,25-27). Em Jo 11,4, Jesus afirma que a doença de Lázaro não é para a morte, mas para afirmar seu poder sobre a morte. Jesus é a vida e nele está a vida (Jo 1 ,4). Este é um aspecto muito importante da identidade de Jesus para as comunidades do Discípulo Amado. A força de vida que há nele manifesta que ele é verdadeiramente o Messias e Filho de Deus, capaz de trazer um morto de volta à vida. Marta acolhe esta revelação mesmo antes de ver o sinal que revela o poder de Jesus sobre a morte, manifestado na ressurreição de Lázaro. Assim Marta recebe a bem-aventurança: “Felizes os que não viram e creram “ (Jo 20,28) e torna-se um modelo para as pessoas que desejam seguir Jesus.

A vitória de Jesus sobre a morte mudou a seqüência dos tempos históricos. O que era próprio do tempo final entrou para o tempo presente. Por isso, o Jesus apresentado pelo Evangelho de João pode afirmar: “Quem vive e crê em mim jamais morrerá!” (Jo 11,26). Como é que Jesus pode afirmar que viveremos para sempre? Na Primeira Carta de João, este mistério é esclarecido: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (iJo 3, 14). O amor é a força mais poderosa que existe. Ele transforma as pessoas e os acontecimentos. O amor faz o futuro virar presente e a ressurreição acontecer hoje. É interessante a comparação de Mt 16,16-17 com Jo 11,27. Em Mateus, a profissão de fé está na boca de Pedro, que por esse motivo foi reconhecido nas comunidades apostólicas como autoridade.
Em João a confissão de fé está na boca de Marta. É uma tríplice confissão: “Senho, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo” (Jo 1 1,27). M~u~ta confessa que Jesus é Senhor, Messias e Filho de Deus. Isto indica que nas comunidades do Discípulo Amado é Marta quem desempenha um papel semelhante ao de Pedro nas comunidades apostólicas. Sua confissão de fé está repetida em Jo 20,3 1, indicando o objetivo do evangelho: “foi escrito para que acreditem que Jesus éo Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham a vida em seu nome “.
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sábado, 9 de abril de 2011

Grupo de Reflexão Bíblica Nacional: reflexão sobre o Êxodo para o Mês da Bíblia 2011

Reunidos em São Paulo, nos dias 05 a 07 de março de 2010, o GREBIN (Grupo de Reflexão Bíblica Nacional), dentre as várias propostas apresentadas para estudo no mês da Bíblia 2011, analisando as vivências de nossas comunidades, achou por bem estudar, refletir e rezar sobre um trecho do livro do Êxodo (cap. 15,2-18,27).

Tema:  “TRAVESSIA: passo a passo, o caminho se faz”.
Lema:  “Aproximai-vos do SENHOR “( Ex 16,9).

A sessão do livro do Êxodo que será trabalhada (Ex 15,22-18,27) poderia ser chamada de “CARTILHA DA CAMINHADA”. Ela reúne alguns episódios significativos da travessia feita pelo povo através do deserto, antes de fazer a aliança com Javé, no Sinai. Mostra algumas dificuldades, crises e dúvidas do povo em sua caminhada. Assim, sempre que essas mesmas dificuldades voltassem, a Cartilha ajudaria o povo a renovar o ardor e a reassumir, mais uma vez, a aliança com Deus.

Alguns pontos importantes da Cartilha:
Ex 15,22-27: As águas da provação ensinam seguir os mandamentos.
Ex 16,1-35: A fome que gera saudades da escravidão ensina a partilhar
Ex 17,1-7: As águas da dúvida: nunca duvidar da presença de Deus no meio do povo.
Ex 17,8-16: Sem a bênção de Deus não há futuro na luta do povo.
Ex 18,1-12: As famílias dispersas se reúnem num projeto comum.
Ex 18, 13-27: O caminho da participação passa pela descentralização.

Apesar de fazer a experiência de libertação, a sobrevivência do povo continuava difícil: sobrevivência material, de liderança e a saudade das seguranças.
Por que escolhemos esse texto? Para animar a vida das comunidades atuais e encorajá-las nessa travessia na certeza de que “Deus está no meio de nós”!

Nosso material está sendo preparado e estará disponível no início do próximo ano (2011)
Desde já convidamos cada um e cada uma preparar-se para tal estudo que, não necessariamente tenha que ser apenas no mês de setembro, mas em qualquer outro momento.
Bom Trabalho!
CNBB

O amor entre Clara e Francisco de Assis

Leonardo Boff
Francisco (+1226) e Clara (+1253), ambos de Assis, são figuras das mais queridas da cristandade, das quais nos podemos realmente orgulhar. Os dois uniam três grandes paixões: pelo Cristo pobre e crucificado, pelos pobres, especialmente os hansenianos e um pelo outro. O amor por Cristo e pelos pobres não diminuía em nada o amor profundo que os unia, mostrando que entre pessoas que se consagram a Deus e ao serviço dos outros pode existir verdadeiro amor e relações de grande ternura. Há entre Francisco e Clara algo misterioso que conjuga Eros e Ágape, fascinação e transfiguração. Os relatos conservados da época falam dos encontros freqüentes entre eles. No entanto, “regulavam tais encontros de modo tal que aquela divina atração mútua pudesse passar despercebida aos olhos dos homens, evitando boatos púbicos”.
Logicamente, numa pequeníssima cidade como Assis, todos sabiam tudo de todos. Assim também do amor entre Clara e Francisco. Uma legenda antiga refere-se a este diz-que-diz-que com terníssima candura:”Certa feita, Francisco havia ouvido alusões inconvenientes. Foi a Clara e disse-lhe: Comprendeste, irmã, o que o povo diz de nós? Clara não respondeu. Sentiu que seu coração começava a parar e que, se dissesse uma palavra mais, iria chorar. É tempo de separar-nos, disse Francisco. Então, tu vais à frente e, antes de vir a noite, terás chegado ao convento. Eu irei sozinho e te acompanharei e longe, conforme o Senhor me conduzir. Clara ajoelhou-se no meio do caminho. Pouco depois, recuperou-se, levantou-se e continuou a caminhar, sem olhar para trás. O caminho passava por um bosque. De repente, ela se sentiu sem forças, sem consolo e sem esperança, sem uma palavra de despedida antes de separar-se de Francisco. Aguardou um pouco. Pai, disse, quando nos veremos de novo? Quando o verão voltar, quando as rosas florescerem, respondeu Francisco. E então, naquele momento, algo maravilhoso aconteceu. Parecia que por sobre os campos cobertos de neve, tivesse chegado o verão e irrompessem milhares e milhares de flores. Depois de uma perplexidade inicial, Clara se apressou, colheu um ramalhete de rosas e o entregou nas mãos de Francisco”. E a legenda termina dizendo:”Desde aquele momento em diante, Francisco e Clara nunca mais se separaram”.

Estamos diante da linguagem simbólica das lendas. Mas são elas que guardam o significado dos fatos primordiais do coração e do amor. “Francisco e Clara nunca mais se separaram”, quer dizer, souberam articular seu mútuo o amor com o amor a Cristo, aos pobres de tal forma que era um só grande amor. Efetivamente jamais saíram um do coração do outro. Uma testemunha da canonização de Clara diz com grazie que Francisco para ela “parecia-lhe ouro de tal forma claro e lúcido que ela se via também toda clara e lúcida como se fosse num espelho”. Dá para expressar melhor a fusão de amor entre duas pessoas de excepcional grandeza de alma?

Em suas buscas e dúvidas ambos se consultavam e buscavam na oração um caminho. Um relato biográfico da época conta: “Certa feita, cansado, Francisco chega a uma fonte de águas cristalinas. Põe-se a olhar, por longos instantes, para estas águas claras. Depois, tornou a si e disse alegremente a seu amigo íntimo Frei Leão: Frei Leão, ovelhinha de Deus, que pensas que vi nas águas claras da fonte? A lua, que se espelha lá dentro, respondeu Frei Leão. Não, irmão, não via lua, mas sim, o rosto claro de nossa irmã Clara, cheio de santa alegria, de sorte que todas as minhas tristezas desapareceram”.

Agora em 2011 se celebram os 800 anos da fundação por Clara da Segunda Ordem, a das Clarissas. O relato histórico não poderia ser mais carregado de densidade amorosa. Francisco combinara com Clara que na noite do domingo de Ramos, belamente adornada, fugisse de casa e viesse encontrá-lo na capelinha que havia construído, a Porciúncula. Efetivamente ela fugiu. Chegou à igrejinha e lá estavam Francisco e seus companheiros com tochas acessas. Alegres a aplaudiram e a receberam com extremo carinho. Francisco cortou-lhe os belos cabelos louros. Era o símbolo de sua entrada no novo caminho religioso. Agora eram dois num só e mesmo caminho e até hoje “nunca mais se separaram”.