O NATAL DE MARIA DE NAZARÉ
E A MARIA DO NATAL DE HOJE
Profª Drª Lina Boff
O Natal é, seguramente, a festa mais sentida e universal do Cristianismo. É uma festa celebrada até pelas pessoas que não acreditam no Deus dos cristãos. Por isso, ela é mais que uma festa celebrada pelo Cristianismo, é um espírito que envolve o coração, os sentimentos e veste de luz toda a criação que Deus plasmou e enfeitou com tanto carinho. Esse espírito de irmandade e fraternidade universal, faz com que as famílias se encontrem, troquem presentes, desejem Feliz Natal!, enviem cartões de Boas Festas, celebrem a Ceia de Natal que une e abraça a todos e a todas, na alegria, na luz e num ambiente em que o sagrado se faz presença e toma rosto na face de cada pessoa que reluz naquela noite.
Diante deste quadro tão bonito, como teria celebrado os aniversários de seu filho Jesus, Maria de Nazaré, aniversário que hoje nós chamamos de Natal? Muitas perguntas a respeito teríamos a fazer. Mas vamos recorrer um pouco a trajetória que Maria fez quando celebrava, junto com sua comunidade, seu marido José e seu filho Jesus, a fé que nutria pelo Deus da Vida. O que Maria rezava e celebrava quando ia ao Templo? Vamos ver algumas de suas orações proféticas e sálmicas que ela, com sua comunidade de fé judaica, fazia com Esperança e Fé.
Do profeta Isaías, provavelmente, Maria exultava de Esperança e Fé sempre que proclamava estas profecias: Povo de Israel, sabei que o Senhor mesmo vos dará um Sinal: Eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho, que será chamado Emanuel, isto é, Deus conosco (Is 7,14). O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria (Is 9,1). Ó Jerusalém, põe-te em pé, resplandeça, porque a tua luz é chegada, a glória de Javé resplandece sobre ti. A ti virão os tesouros das nações e montadas em camelos trarão ouro e incenso para te presentearem (Is 60,5s). Finalmente, Miquéias, o profeta do Messias da descendência davídica, fala de maneira clara: E tu, Belém de Éfrata, embora a menor de todas as cidades de Judá, de ti sairá o Messias Libertador que o povo de Israel espera há tanto tempo. Ele trará a paz e a libertação para todos os povos (Mq 5,1s).
Dos Salmos, deduzimos que Maria de Nazaré tenha dado a estes, a preferência que o seu Deus sempre deu ao povo de Israel. Por isso, Maria proclama os salmos com Esperança e Fé. Ó Jerusalém, a ti vem o teu rei que liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor. Ele os redime da astúcia e da violência, por isso, todos os reis da terra, se prostrarão diante dele (Sl 72,12s). Este é o dia que Javé fez para nós, exultemos e alegremo-nos nele.pois, o Salvador chegou entre nós (Sl 118,24).
Nesta Esperança Maria celebrava todas as festas de sua família biológica e de sua família de fé judaica. Hoje, Maria celebra esta festa de Natal, com mais de dois mil anos de distância, junto com seus romeiros e romeiras. Todos sabemos que Jesus se fez homem permanecendo Deus ao mesmo tempo. Por ser o Deus das pessoas mais necessitadas e humildes deste mundo, Ele quis entrar no nosso mundo escondido, participando do destino daquele que bate à porta, à noite, no frio, como fez José com sua mulher grávida, procurando lugar para que ela desse à luz com dignidade. Mas não encontrou lugar, a não ser numa pobre estrebaria vizinha. Lá havia palha, uma manjedoura, um boi e um burrinho que com seu bafo esquentaram o corpinho frágil do recém-nascido.
Assim Deus quis entrar em nosso mundo, silenciosamente, entrou pela porta dos fundos. Os grandes que habitavam em palácios das cidades de Jerusalém e de Roma, nada ficaram sabendo disso tudo. O Natal de Maria e de José, foi celebrado, não no meio de gente grande, mas no meio de pessoas simples como os pastores, e pobres como Maria e José, que batendo de porta em porta, ouviram estas duras palavras: “Não tem lugar para vocês”!
O que aprender deste Natal? Deus, quando quer se manifestar, não usa o espetáculo grandioso dos meios de comunicação, mas usa o silêncio simples das pequenas coisas da vida cotidiana. Foi assim que Ele veio e continua vindo para todas as pessoas do mundo inteiro. Mas, de maneira especial Ele vem para os pobres e simples de coração, porque assim Ele viveu no meio de nós. Nascendo entre os pobres, está sempre perto deles e a partir deles pode alcançar também os que têm riquezas materiais e não repartem com quem não tem. Dessa forma, ninguém fica de fora de sua vinda no Natal e ninguém é excluído de ser tocado pela presença de Deus que vem numa criança frágil e pequena como nós nascemos.
A reza que Maria fazia na Esperança para que Deus viesse libertar seu povo, se fez realidade através dela, no dia em que Jesus nasceu em Belém. Este mesmo acontecimento continua se atualizando em cada Natal que celebramos todos os anos. Mas sobretudo, vendo no Menino recém-nascido, aquele que pregou o Reino de paz e de bondade, e que por esse motivo morreu na cruz, mas ressuscitou para que todos nós tivéssemos olhos para ver a realidade com o coração. Assim podemos desfrutar da Graça Encarnada que nos vem no Natal.
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